Era noite, bem tarde. Um pequeno barco navegava pelas águas calmas do East Blue. Era lua nova, estava escuro. As luzes do barco eram muito reduzidas, pra não chamar atenção da guarda costeira. Em meio a névoa daquela noite, um barco abarrotado de recrutas do Exército Revolucionário se aproximava da ilha. Eu estava entre eles, após uma longa viagem desde Centaurea, para conseguir chegar em outro Blue. Após quase 1 mês nessa viagem, estava chegando ao seu destino. Do convés, observava o mar com determinação nos olhos, queria enxergar o futuro.

O capitão saiu para o convés, e observou bem. Não dava pra ver nada naquela névoa e escuridão.

— Ahoy! Já estamos quase chegando — Disse ele à plenos pulmões, repentinamente.

Ouviu-se um grande "shhhh!" de várias partes do pequeno barco. Também, pudera, se fossemos descobertos ali, seria como entregar de bandeja os planos de novos recrutas para o East Blue, e problemas para a base Revolucionária instalada em Tequila Wolf. O capitão só bufou em resposta. Caminhou até a ponta do convés e deu um assobio. As pessoas se reuniram, fui a elas sem pestanejar muito.

— Ahoy, estamos chegando em Tequila Wolf-ahoy. Vamos fazer silêncio e aproveitar essa noite escura pra chegar até a base-ahoy. — Disse ele, os ahoy eram estranhos — Não sei o que vocês pensam da vida-ahoy! Esses rebeldes... uma hora vocês vão aprender-ahoy!

Houve alguns desconforto por ali, mas parece que alguns militantes já não pareciam ser do tipo que aguentava muita pressão. O que eles estavam fazendo ali? Se não for pra enfrentar o Governo Mundial de frente e lidar com quem não entende a causa, seria melhor ter ajudado de outra maneira. O capitão podia fazer menos barulho também...

— Vamos chegar no porto da ponte, e vamos subindo as escadas um por um ahoy... — Ele repassava as informações. — E esse é meu trabalho. Eles cuidam de vocês depois disso ahoy! Bom, alguns vão precisar de babá mesmo...

Passou os olhos pelas pessoas, como se conseguisse ver pelo escuro. Enfim, parece que era tudo muito simples, mas ao mesmo tempo bem planejado. Imagino até onde tudo isso foi arquitetado pensando na ocultação da base. O capitão se aproximou de mim, o que me surpreendeu um pouco.

— Você tem horas-ahoy? — Perguntou ele.
— Deve ser quase meia-noite, não? — Dei um chute.
— Bahahahoy! — Ele riu muito alto — Você fica fazendo essa pose de maldoso, mas nem sabe as horas! Não vai durar muito ahoy! Bahahahahoy!

O velho capitão parecia não ter medo de morrer. Não tive como dar alguma resposta, apenas olhei pra ele, um pouco confuso. Vou acabar me fudendo por não saber as horas? Que tipo de conselho é esse? Foi o exército em Centaurea que me treinou... Velho caduco. Ele fazia bastante barulho, então provavelmente só estava tentando deixar todo mundo nervoso.

— Vou aprender a olhar as horas sem relógio, então xa-xa-xa... — Respondi, pensando em realmente fazer isso.

O capitão só bufou e foi fazer outra coisa. Aos poucos nos aproximamos da base de operações. Chegamos próximo a uma das enormes pilastras de pedra construída pelos oprimidos, e havia um pequeno palanque de madeira à margem, um pequeno porto enrolado da estrutura. Em um dos lados, uma escada subia até chegar em uma porta de madeira. O barco estacionou ali do lado, e os novos recrutas da causa começaram a descer. Quando fui sair, o capitão segurou meu braço.

— Hum, Hum! Você acha que pode saber das horas sem um relógio ahoy?! — Ele parecia de mau humor — Você não vai conseguir! Tome esse relógio velho aqui, ele vai te ajudar com as horas erradas! BAHAHAHAHOY!

Me entregou um relógio velho e todo arranhado de latão, mas parecia funcionar perfeitamente bem. Marcava 22h22min, um tempo exato. Que coincidência, não? Parece que vou ter que começar a contar os minutos pra saber se o tempo é perfeito. Vou tentar acertar o tempo depois, vai ser divertido. O velho foi saindo, tirando sarro da minha cara. Mal sabia ele que aquilo me deixaria mais forte.

Desci do barco e subi a estreita escada. Cheguei à porta, e entrei com o restante das pessoas, para o que parecia ser uma sala de pedra, literalmente no interior da estrutura da ponte. Um camarada da causa já ia entrando no local, iluminado por lampiões a querosene...

Histórico:

O homem entrou na sala com cerca de 20 novos associados da causa. Havia um outro de vigia, meio sonolento. Alguns dos rebeldes pareciam um pouco nervosos, outros meio cansados da viagem e querendo sono, e alguns estavam mais atentos. Era o meu caso, não parecia me diferenciar muito, a não ser pelo uniforme dado pela base em Centaurea. O homem parecia muito tranquilo, com um corte de cabelo limpo e com um certo ar de limpeza, o que era estranho. Começou a falar.

— Sejam bem-vindos, novos rebeldes, a base Revolucionária no East Blue, esta é Under the Bridge. Vocês fizeram uma longa viagem, não é? — Sua voz era baixa mas encorpada, um pouco monótona — Vocês são novos associados que chegaram para que possa acabar com a guerra nessa cidade, causada por tirania de seus governantes, apoiada pelo Governo Mundial!

Fez-se um burburinho de animação entre os novatos, alguns conversaram entre si e a energia era de animação. Será que realmente sabem o que é uma guerra?

— Sou Marco DeMarc, um insurgente encarregado de orientar vocês nesses primeiros dias. E vocês são enviados de outros Blues para combater à nossa causa. Vejam bem, o East Blue é muito submisso ao Governo Mundial, e recentemente houveram ocorridos bastante caóticos na Grand Line, sobre o Exército Revolucionário... — Ele olhou em volta, engoliu em seco e mudou de assunto — Vocês estão aqui pois a causa precisa que estejam aqui! É aqui onde sua luta começa de verdade! Nesta ponte construída pelo sangue e suor dos inocentes, vocês serão responsáveis por libertá-los de seus grilhões e acabar com essa guerra! Isso é, se conseguirem lidar com as crueldades de Tequila Wolf. Foram muitas baixas, mas vocês estão aqui pra honrar o sangue derramado de seus camaradas! Entendido?!

Ouve-se um brado de "Urra!" repentino, e todos ficaram enérgicos. Mas, espere um momento... quanto tempo se passou desde que entrei aqui? Acabei me perdendo sem querer. O homem pareceu animado com a situação.

— Vocês estão animados, heim. Mas hoje não vai ter nada de interessante, além de conhecerem seus aposentos. Vamos mostrar como funcionam as coisas aqui amanhã, e não quero saber de desleixo de vocês. E tem algumas coisas... — Ele pareceu muito sério naquele momento — É estritamente proibido sair da base sem autorização, não importa a hora do dia. Deserção não será tolerada também. E por último, vocês começarão suas tarefas amanhã cedo, e estarão prontos para o campo somente com o retorno do comandante Falco. Fui claro?

Mais um brado de "Urra!"

— Dispensados! O John mostrara o espaço pra vocês...

Ia começar a seguir caminho junto do restante dos rebeldes, antes que ouvisse um assobio. Marco DeMarc fez sinal para que eu ficasse, então aguardei para que os outros rebeldes saíssem da sala.

— Então você passou pela academia não é? — Disse ele — Recebem esse uniforme diretamente do Exército os que excederam as expectativas em seu treinamento. Qual seu nome, e sua filiação?
— Fui nomeado Sergei Eisenstein. Fui treinado em Centaurea, no South Blue. — Respondi, diretamente.

— Nomeado, é? Entendo, você deve ser um dos sem nome. Gostamos do seu tipo por aqui. Mas não pense que só por ter um uniforme bacana você ganhará tratamento especial, ouviu?
— Tenho certeza que vou cumprir minha tarefa, senhor. — Disse, importando pouco com suas provocações. Eu sabia o motivo de estar ali mais do que qualquer um.
—Obrigado, Sergei. Dispensado.

Saí a tempo de encontrar o grupo caminhando por túneis e vãos dentro da ponte de Tequila Wolf.

— Certo, acho que são 23 horas agora...

Olhei o relógio. Eram 22h47. Estou um pouco longe.

Histórico:

Dormi em um quarto com outros associados da causa. Foi uma noite relativamente tranquila. Pensei sobre meus objetivos, sobre o que eu realmente queria fazer, como faria para atingir a grandiosidade da libertação do mundo... e adormeci. Acordei as 6h da manhã no outro dia, tomei um café no refeitório e observei. Haviam muitas pessoas naquela base em Tequila Wolf. Os rebeldes pareciam se espalhar pela ponte, fazendo suas tarefas. Com uma breve visão do momento que saí do quarto, até o momento em que cheguei ao refeitório, consegui ter noção de pelo menos 50. Quase saí para a ponte para tomar ar fresco, consegui ter noção de pelo menos outros 50, no que também percebi que haviam vários outros espalhados em outras áreas da base, uma estimativa. Além disso, se o comandante Falco estava fora, provavelmente estava com uma comitiva de acompanhamento. Quase 200 pessoas na base, pouco menos. A comida era boa, pelo menos. Marco DeMarc se aproximou.

— Eisenstein, bom dia. Aqui em Under the Bridge todo fazemos nossa parte quando não estamos na luta. Precisa ajudar no serviço. Você pode ir pra área médica, talvez seja útil lá, ou se preferir ir pra cozinha...

Observei ele com olhos frígidos, mas o café estava bom demais para atender a provocações de um camarada que acordo sem ter transado.

— Prefiro a ala médica, acho que ia fazer uma gororoba pro almoço e iria desnutrir todo mundo! Xa-xa-xa-xa-xa!
— Tudo bem, lá você pode fazer primeiros socorros e coisas assim, se você não matar ninguém haha! — Ele rebateu, retornou a tirada.
— Tem algo mais que eu precise saber, camarada?
— Acordar cedo é uma delas. Temos muito a ser feito. Você precisa ajudar com o funcionamento da base como todos, aqui não é um hotel, mas pode usufruir do seu tempo como preferir quando acabar. Estamos sem grandes missões até o retorno do Comandante, então talvez você devesse conhecer outras pessoas enquanto isso. Almoço as 12h, jantar as 18h. — Ele parecia uma cartilha de orientação completa, não parava de falar coisas pontuais e cronogramadas — E você também pode comparecer ao nosso arsenal pra pegar uma arma de seu interesse, certo? Vou indo então.

Ele saiu sem muitos problemas, mal pude tirar dúvidas. Não que houvesse alguma dúvida na qual eu precisasse tirar, mas em todo caso, terminei de comer parar me preparar para o dia.

Personagem:

Histórico:

Terminei de comer, me prontifiquei e comecei a caminhar. Não estava de máscara. Não conversava com muitas pessoas, mas já conseguia reconhecer alguns rosto. Orientei-me até chegar à ala médica, apertada em uma das pilastras da ponte... parecia muito aconchegante o espaço. Estrategicamente falando, além de ocultar toda a visão e ruídos dos Revolucionários, também proporcionava proteção e conforto. Usar as paredes de pedra da ponte era muito inteligente, e até onde eu havia entendido, os militares da ilha não sabiam da localidade da base. Under the Bridge era uma verdadeira fortaleza.

Cheguei na ala médica. Era um espaço mais amplo dentro das paredes de pedra, com alguns leitos espalhados. Um homem entre os 30 e 40 estava ali sentado mexendo em alguns frascos, parecia ser o médico chefe do local. Ele não pareceu prestar atenção à mim, havia alguns outros ajudantes espalhados cuidando do espaço, alguns feridos em situação... no mínimo problemática, com muitas bandagens e sangue. O local era bem organizado. O médico se virou e me viu, aproximando-se.


— Eh... enviaram mais um? Olha, você não tem cara nem de quem sabe fazer primeiros socorros. Se eu precisar de você eu te chamo, só esteja à disposição... — Ele disse, a voz meio rouca, um tanto quanto desinteressado.
— Vou estudar alguns livros seus, posso? Queria aprender algumas coisas sobre o corpo humano que nunca tive oportunidade... — Disse, interessado.
— Hm, muito bom! Então você está interessado, certo? Pode pegar os livros de anatomia naquela prateleira, sirva-se. Talvez um médico a mais não seja má ideia nesse inferno dessa guerra... — Ele disse, e se retirou.


Não estava muito interessado em me tornar médico, pra falar a verdade, mas estava interessado em aprender anatomia, pois conhecendo corpos diferentes poderia atacar onde realmente importa. Numa luta pela vida e a morte, isso faz sentido, não? Aproximei-me da estante de livros, peguei alguns vários e me sentei em uma mesa livre, onde poderia estudar.






Peguei alguns livros gerais. Não sabia muito sobre o corpo além da extensão de meu próprio e de outros que já toquei. O livro que mais interessava era o livro sobre músculos do corpo humano, o principal para estudar anatomia para uma luta. Começava lendo os textos, era um ritmo até que muito fácil para mim, não parecia ser muito complexo tais estudos. Absorvia as informações principalmente com as imagens, conseguia entender bem como funcionavam os músculos do corpo humano, que precisavam de um impulso elétrico vindo do cérebro para funcionar e revestiam os ossos, protegiam também o sistema neural. Outro que me fascinou bastante. As informações acerca do cérebro humano eram muito elementares, mas não deixavam de ser um prato cheio para aprendizado intenso, muito técnico e, até um certo nível difícil.

Tentava ler os outros livros. Sistema digestivo, sistema respiratório, sistema cardiovascular... eram muitos, e muitos interessantes. Com algumas folhas ao meu lado, fazia anotações para que pudesse conectar informações com maior afinco. Entender o corpo humano e suas partes era fácil, a questão era como ele funcionava de fato, qual parte afetava e interagia com a outra, como funcionava o corpo de maneira geral, de que maneira era possível afetar uma parte por meio de outra. Era um estudo bastante complexo, deveras. Já era hora do almoço e eu ainda não havia conseguido entender a totalidade da situação.

Comi rápido no refeitório e retornei para a sala. Auxiliei com algumas tarefas o médico, que não tomou muito do meu tempo. Fazia conexões de conhecimento e entendia cada vez melhor as partes. Quanto mais entendia as partes, mais conseguia ter um escopo de como poderia aplicar isso em lutas, onde atacar oponentes para lhes causar problema e ter mais vantagens durante um confronto de vida e morte. O conhecimento acerca do corpo humano era incrível. Despendi de mais um bom tempo para conceber tudo o que era necessário para ter o conhecimento necessário sobre anatomia.


Terminei de estudar, finalmente, e já estava muito satisfeito. Não havia tido muito trabalho até então, além de um esforço mental intenso para entender o necessário acerca do que seria anatomia. Consegui até mesmo ter conhecimento sobre algumas coisas coisas: anatomia de minks, tritões e sereias... o que era um pouco mais complexo que a do corpo humano, mas tudo fazia sentido. Já era de tarde quando acabei, mas ainda não se via o crepúsculo pela janela.






— Certo, aposto que devem ser... 16h!


Olhei o relógio velho que o velho tinha me dado: eram 16h20. Ainda estava longe de acertar. Na verdade, talvez eu precisasse fazer um trabalho de aprendizagem com maior afinco... Quem sabe me esforçar melhor pra conseguir ter Precisão Temporal plena? Era uma opção.

Saía da ala médica, agradecendo ao médico responsável, e começava a perambular pelo espaço. Caminhei até onde era o arsenal, e entrei em uma sala com vários outros soldados do Exército espalhados por ali, cerca de 5 cuidando da logística do espaço. Fui procurar algo que pudesse me servir, antes de ouvir uma voz familiar me chamando ali.

— Eisenstein, você tem serviço. — A voz de Marco DeMarc soava pelo corredor.

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— Pois não? — Virei-me e perguntei.

Ele se aproximou de mim carregando um par do que seriam luvas.

— Achei que não seria necessário, mas temos uma missão. O comandante não está presente, e como isso é uma urgência, não posso enviar novatos de primeira viagem. — Disse ele — Fiquei sabendo que você luta com o corpo, essas são boas.

Ele me entregou um par de luvas táticas que pareciam se encaixar muito bem, além de serem confortáveis. Havia um peso em suas juntas. Ele começou a falar novamente.

— Não devíamos ordenar nenhuma missão pros novatos sem Falco, mas você foi treinado pela base em Centaurea, então parece ter um pouco mais de experiência, embora seja sua primeira missão real. — Ela dizia, sentando-se na mesa após fechar a porta — Não é muito difícil, mas parece que um batalhão de Yousseff conseguiu perfurar as linhas de frente e agora ameaça encontrar pistas de onde está localizada nossa base.
— Imagino que seja um problema. Se bem entendi, não sabem onde estamos localizados, e estamos num impasse duradouro com esses crápulas. Parece incompetência terem perfurados nossas defesas...
— Você não é do tipo que mede palavras, não é? — Marco DeMarc perguntou, levantando uma das sobrancelhas.
— E qual seria a missão? — Dei de ombros.
— Você vai direto para o front comigo e alguns outros rebeldes, chamei outros novatos que pareciam animados também. A ideia é construir novas linhas de defesa o mais rápido possível, mas não podemos fazer isso se eles estão logo em cima de nós. Se avançarem demais, podem encontrar pistas para a base, o que traria problemas.
— Certo, então eu só preciso mantê-los ocupados enquanto reorganizamos nossas forças, correto?

Ele me olhou com olhos curiosos, como se não esperasse a resposta.

— Você é um bom estrategista. Vamos ver se é durão assim no campo de batalha. — Ele satisfeito de ter me chamado — Você estará num batalhão ao meu comando. Nosso batalhão vai ser responsável por empurrar os combatentes do exército, enquanto outra parcela organiza as linhas de defesa. Fui claro?
— Claro e conciso. — Disse à ele — Quando começamos?

— Saia até o topo da ponte daqui a pouco, vamos chegar lá antes de escurecer.
— Sim senhor. — Respondi, sério.
— Te vejo em breve. — E saiu.

Contentei em bater uma continência quando ele se retirou. Aquele evento estava me deixando entusiasmado. Já estava para começar meu dever como parte da causa. Saí do lugar, peguei minha máscara em minhas coisas no dormitório, e me dirigi até o topo da ponte, onde não haviam mais corredores de pedra.

Personagem:

Histórico:

O sol estava quase se pondo, em seu crepúsculo. Desisti de ver as horas na cabeça, o relógio velho e arranhado marcava 17h33. A neve caía tranquilamente em Tequila Wolf, e o frio deixava sentir o calor do sangue. Quando cheguei ao topo da ponte, com barracas de vários tipos espalhadas, me deparei com Marco DeMarc organizando um grupo com cerca de 20 pessoas. Aproximei-me, vestindo minha máscara para esconder minha identidade. Marco olhou para aquela máscara e pareceu um pouco confuso, mas apenas deu de ombros.

— É chegada a hora. Estamos em 21 guerreiros do Exército Revolucionário! Organizem-se em fileiras de 5, e me sigam!

Era uma ordem básica para podermos nos organizar. Pelo treinamento que recebi em Centaurea, não tive muita dificuldade. Alguns dos poucos novatos que compunham ali se confundiram um pouco, mas o pelotão conseguiu se organizar em 4 fileiras de 5 pessoas. Estava na linha de frente, e Marco DeMarc era quem liderava. Começamos a marchar.

Saímos da extensão da torre marchando, chegando até a terra firme de solo gelado de Tequila Wolf, coberto de neve. A medida que prosseguimos, o sol se punha cada vez mais, e a penumbra surgia. Era noite de lua nova, e algumas árvores se estendiam em nosso caminhar.

— Pelotão, iremos de encontro com as linhas de frente em uma planície logo após essas árvores. Somos os reforços. Precisamos empurrar as linhas inimigas dos militares enquanto formamos linhas de defesa na saída desse pequeno bosque! — DeMarc ordenava enquanto marchávamos.
— Alguma estratégia? — Perguntei, interessadoa.
— Há uma estratégia, e nesse caso, somos o pelotão de confronto direto! — Disse ele. Houve um certo pesar entre todos — Entraremos em contato, e vamos lutar empurrando os militares.
— Qual a estimativa de inimigos? — Perguntou um dos novatos no meio das linhas.

Marco DeMarc ficou em silêncio por alguns instantes. Aquele silêncio poderia ser preocupante.

— Recomendo que não se assustem ou façam coisas impensadas. Eles estão em maior número, numa proporção de 3 para 1 de nós, contando com nossos aliados no front. — Disse ele, a voz dura — Não é hora de amarelar!

Já era de se esperar que as condições não fossem as melhores possíveis, mas alguns novatos pareciam estar desconfortáveis naquele momento. Fui preparado o suficiente em Centaurea para ter noção desse tipo de coisa. Na verdade, até mesmo já estive em infernos maiores... Não me abalei como alguns ali, mas os que não eram novatos pareciam acostumados. Era perceptível pelo olhar de fúria deles. Todos queria retribuir o Governo Mundial de alguma forma, por algum mal que ele havia causado. Esse era o início de nossas rebeliões internas.

Atravessamos os bosques, e já se mostrava de noite. Observamos luzes ao fundo. Quando chegamos próximos, já encontramos as linhas de defesa. Lampiões a querosene e fogueiras improvisadas iluminavam o local, que parecia um caos. Vários dos nossos estavam feridos, e alguns tentavam cuidar do ferimento de tantos. Haviam grandes barricadas de madeira, ferro e sucatas, que tapavam a visão do campo de batalha e serviam como proteção. Havia berros e gritos de ambos os exércitos, armas atirando e últimos suspiros à nossa frente. Uma rápida olhada por aquele Q.G. do front mostrava pouco mais de 30 pessoas. Quantas mais estavam lançadas à batalha?

Uma mulher de belos cabelos de fogo estava em cima de uma monta de pedras, observando o campo e comandando a todos. Parecia ser a oficial da base em Tequila Wolf, pela maneira como comandava. Ela viu a chegada do nosso pelotão.

— DeMarc, você se seu pelotão seguem em frente! Ajudem a unidade de Ivanov e depois juntem-se a ela para pressionar o inimigo mais à frente!
— Entendido, oficial Sergeyevich!

Marco DeMarc fez sinalização para que nossa unidade seguisse. Saímos por detrás das barricadas e trincheiras, nos deparando com um campo de batalha logo à frente.

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A situação no campo de batalha era um tanto quanto preocupante. Meus olhos funcionavam bem no escuro parcial, então conseguia ver o que estava acontecendo. Estávamos sendo empurrados por pelotões dos militares inimigos, e não parecia que pudéssemos resistir. Era difícil entender no meio de todo aquele caos, mas meus conhecimentos estratégicos permitiam que eu entendesse a situação como um todo. A quantidade de militares inimigos era problemática pois era o triplo de nossas forças, o que significava que precisaríamos de uma estratégia de campo impactante para controlar todo aquele caos naquela noite.

Marchamos e corremos pelo campo, e pelo visto a oficial sabia o que fazia. Não fomos interceptados até que conseguíssemos chegar até a unidade Ivanov, para auxiliá-la. Haviam poucos homens daquela unidade restando.

— Unidade Marco, espalhem-se e derrotem esses desgraçados! — A voz de Marco ressoou.

Colidimos diretamente com os militares, nos espalhando para abranger uma área maior, sem que nos atrapalhássemos. E o combate começou. Estava logo na linha de frente, então não foi difícil chegar com uma voadora em um militares que carregava uma espada, ele estava prestes a decepar a cabeça de um de meus camaradas. Levantou-se, e avançou para atacar com a espada novamente. Desviei do seu golpe, e dei-lhe um soco na mandíbula que fez com que ele caísse no chão.

Um olhar ligeiro mostrou que nosso impactou fez diferença naquela área da batalha, mas ainda não havia sido solucionado. Outros dois militares vieram ao meu encontro, ambos carregando espadas. A luta era difícil. Desviei de um golpe descendente de espada de um deles, e chutei seu corpo para afastá-lo, mas o outro aproveitou para me atacar. Não fosse minha exímia velocidade, seria cortado, mas fui empurrado com alguns arranhões.

— Seu mascarado de merda! Acha que aqui é um baile pra andar vestido assim?! — Ele caçoou.

Parecia ser uma distração, pois notei que o militar que havia chutado voltou para tentar me atacar, mas consegui desviar. Deslizei para trás de seu corpo e lhe dei um soco diretamente na nuca, no que fez com que ele desmaiasse. Não tinha muita força, mas o ataque era preciso e letal.

— Não estamos num baile, mas vocês estão dançando... — Provoquei o inimigo.

Ele soltou um grito e avançou para me atacar. Marco DeMarc deu três tiros no filho da puta que ele caiu se arrastando no chão. Não pareceu morrer, mas estava incapacitado.

— Não fique conversando com esses canalhas, seu imbecil. — Disse ele, como se me repreendesse, mas deu de ombros. — Acabamos aqui, precisamos seguir em frente!

E era verdade. Havia derrubado dois, e o pelotão se encarregou do resto. A unidade inimiga não foi dizimada, mas teve danos a ponto de começar a recuar. Conseguimos salvar nossos companheiros, e os que estavam feridos a ponto de não conseguirem continuar se dirigiram para a retaguarda.

— Marco! Ordens de Sônia! Empurre as unidades inimigas à frente, e segure sua posição! — Um mensageiro chegou e repassou a mensagem, logo se indo.

Marco cuspiu no chão, e a unidade que havíamos salvado se juntou a nossa. Estávamos em mais ou menos 30 combatentes.

— Revolucionários, avançar! — Ele berrou.

Avançamos contra os militares.

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