Jhonny tinha seu sono cessado quando acordava sentindo o calor da tarde, só por esse fator, já era possível de saber que o horário no momento supera o meio dia.

Ainda incapacitada pelos diversos machucados, ela se via numa situação quase agoniante, estando num ambiente hostil, onde a poucos metros à sua frente, estava até horas atrás, uma mulher que ela facilmente mataria se conseguisse.

Pegando o livro que havia conseguido anteriormente, ela aos poucos ia ficando mais acordada, as dores eram de fato mais marcantes, mas sua cabeça parecia naquele momento buscar alguma forma de esquecer disso.

E era nas folhas do livro que a fuga aparecia, lentamente ia se sentindo mais concentrada e menos focada na sua situação física.

Nesse instante a segunda integrante finalmente despertava, Aki, a dama da noite, era outra que não gostava nem um pouco do que estava acontecendo, ela na verdade se sentia agoniada em diversas escalas e pelos mais diversos motivos.

Com a convicção de que não iria ficar mais tempo lá, ela entendia que até poderia ir embora sozinha, mas que caso quisesse levar sua comparsa junta, ao menos teria que ajudá-la a caminhar.

Abrindo a porta, ela não via ninguém, mas era quando olhava para o chão, que encontrava um panfleto, com uma imagem de um polvo lutando contra um urso completamente cheio de cicatrizes.

O título poderia clarear o que aquilo significava, “Hoje, na nossa cerimônia de quarenta e cinco anos, a atração que traremos para o nosso público será o embate feroz entre um homem peixe, conhecido como ‘O Campeão’ e um mink ‘O Ceifador’, o embate da noite será o espetáculo que fechará o leilão”.

Nada além disso era mencionado, data, local, hora, como participar do leilão ou coisa do tipo, Aki por fim notava uma pessoa deixando sobre a frente de uma porta ao fim do corredor, um panfleto como aquele que ela encontrava, encapuzado e com pressa, ele virava o corredor e momentaneamente sumia.



Ophelia acordava desnorteada, tendo poucas lembranças das últimas coisas que havia visto antes de adormecer, era entendendo onde estava e a situação que se encontrava que finalmente a preocupação ia aparecendo.

No fim ela não fez o que todo pai sempre alerta, “Não confie em desconhecidos”, agora sozinha e sem a menor ideia de onde estava Zayn, Ophelia se encontrava no lixo e ainda por cima, pelada.

Saindo do beco ela chegava numa rua com movimento médio, pelo horário era normal que as coisas já estivessem acontecendo pela ilha e ela recebia uma resposta para a pergunta, um mercador que estava vendendo frutas numa banca logo na saída do beco dizia.

— Olha só o que temos aqui? Nunca te disseram que andar pelada pelas ruas não é a melhor opção? Tome – Jogava um pano em cima da garota, sendo capaz de ser utilizado para esconder seu corpo nu.

— O que aconteceu com você moça? Por acaso você é uma daquelas barangas que vivem do corpo e que gastam tudo com drogas? Por isso acordou pelada e desnorteada?

Com pena, ele estendia a mão entregando uma maçã para a circense, — Se não tem nada melhor para fazer hoje e com essa tua maquiagem de palhaço, tem um circo que acabou de chegar na ilha... Eles estão fazendo um concurso onde o ganhador ganha um convite para uma festa bem importante da cidade, às vezes você consegue bons clientes nessa festa...



O despertar conturbado e eufórico de Zayn, que tinha seus gritos ecoados para a imensidão escurecida do cômodo. O ambiente voltava ao silêncio, mas demorava pouco para que os barulhos de pegadas voltassem a ecoar.

Ele tentava ver algo à sua volta e era quando notava um ser agachado comendo algo à sua frente, com uma fisionomia raquítica e uma pele bem suja, ele ouvia as palavras do homem-peixe.

Lentamente soltando o que estava comendo e virando a cabeça por cima do ombro, um olhar detentor de grandes e esbugalhados olhos se fixaram sobre Zayn.


Ele ia se aproximando caminhando em quatro apoios e dizendo bem baixinho, — Ma... Marinha...

Era quando chegava bem perto do polvo, analisando-o da cabeça aos pés, ele ria quando notava que o homem estava além de tudo, pelado.

— Gostaria que tivéssemos sido pegos pela marinha... E onde estamos? – Botando a mão sobre o queixo e pensando, ele continuava – Eu até posso te contar, mas nada é de graça nessa vida... Que tal me falar como estão as coisas no mundo lá fora...

O bicho de nome desconhecido se mantinha esperto e por seu pequeno porte, caso Zayn tentasse agarrá-lo, ele facilmente esquivaria.

— Sobre a circense... eu só os vi trazendo você... Afinal, você é nosso campeão... – Voltava a gargalhar num tom macabro e descontrolado, perdendo o ar muitas vezes e ficando ofegante ao fim.

Históricos:

O mundo parecia parar momentaneamente conforme Aki lia o panfleto, as peças no quebra cabeça iam se encaixando e as coisas iam se clareando.

Jhonny pressentia que a situação não era das melhores e tudo se tornava realidade quando o panfleto caia sobre a pagina naquele momento aberta no livro.

Ela poderia ler e rapidamente compreenderia tudo que estava acontecendo, com exceção da pressa de Aki, A Dama da noite que sem perder muito tempo, após chamar Jhonny, partia para fora do quarto, pouco se importando com a condição da moça.

A Kurosawa aos poucos diminuía a distancia entre ela e a pessoa que entregava os panfletos, um entregador que usava uma mascara de caveira para esconder o rosto, com um porte físico pequeno, o que poderia chamar a atenção de Aki seriam as duas pequenas foices que a pessoa carregava junto de sua mochila.

Escondendo-se nos pontos de sombra e nas viradas de esquina, ela demorava poucos segundos para finalmente chegar em seu alvo, prendendo a pressa e subjugando com os dedos na jugular.

A Dama poderia notar o nervosismo que transparecia por uma jugular que pulsava repetidas vezes, — Ehhh... Se eu te contar podem acabar me matando, mas se eu não te contar eu morro agora...

— Eu não faço a mínima ideia de onde vai ser, mas está programado para hoje a noite em um galpão subterrâneo no porto... ops, acabei falando demais...

O nervosismo ia passando, — Esse tal de campeão é um polvo que chegou hoje lá..., mas vê se não conta para ninguém viu? A população comum não sabe desse evento.

Era falando essas ultimas coisas que caindo da mão do entregador, uma bomba de fumaça explodia e sequer sentindo o alvo se soltando, quando Aki se afastava e a poeira abaixava, ele já não estava mais lá.

Havia conseguido desvendar mais uma parte daquela história mau contada, mas alguns detalhes importantes pareciam ficar em aberto, no fim, se recordando de Jhonny que ainda não havia aparecido.



A circense levava a situação da forma mais calma, calma até demais para alguém que nas horas anteriores havia se separado de duas das suas companheiras, lutado contra um sargento e por fim perdido seu capitão para um homem mascarado.

De toda forma, ela ia reagindo ao que o moço falava, mas era quando ele se referia ao circo que tudo mudava, uma euforia ia dominando seu corpo e o sol parecia até brilhar mais forte.

Tanto faz ser uma baranga naquele momento, ou até mesmo receber para ser fodida, muito menos o sabor da maça meio velha era questionado, o circo era o importante,

— Vai ser na doca cinquenta e um, eles devem abrir daqui mais ou menos – Olhava seu relógio de bolso – Uns trinta minutos...

Logo encaixando a resposta para a segunda pergunta, — Tem uma loja que vende em geral tudo a duas quadras daqui, um pouco contra mão em relação a doca que você deseja ir, mas lá é barato e vale apena.

— E sendo sincero, com esse teu corpo, você conseguiria faturar rios de dinheiro, sem sombra de duvidas Guahahahah... – Ria com a situação engraçada da moça

Enquanto isso, a poucas quadras dali, decidida de que hoje seria o dia das mudanças, o dia em que tudo deixaria de ser um desejo e se tornariam realidade, Mizuhara tinha os objetivos iniciais decididos.

Por entre os becos, ela tomava seu rumo e era perdendo o foco com seu reflexo sobre uma poça d’agua que ela batia contra algo, caindo no chão.

A sua frente uma mulher encapuzada e um dono de tenda pareciam finalizar uma conversa, onde o homem ria ao fim da fala e logo se preocupava quando via a outra moça no chão.

— Você é mais uma das barangas que trabalham por aqui?  - Olhando agora para Ophelia e perguntando – É uma amiga sua? – Demorando um pouco até que finalmente notava quem era a ruiva, ele cuspia ao chão e logo ia ajeitando a tenda sobre o carrinho de mão – O que um monstro desses está fazendo aqui? O melhor que pode te desejar e o inferno... com licença baranga um, mas eu não pretendo me envolver com a baranga dois.

Tomando seu rumo ele logo sumia na multidão, ficando agora Ophelia sem entender muito o que estava acontecendo e Mizuhara não precisando de muito tempo na sociedade para que ela sofresse algum tipo de preconceito.



Não havia tecidos num lixão daqueles, mas a tentativa de Zayn era suficiente para tirar mais risos do ser esquisito.

Zayn era sincero, esboçando a verdade em seus olhos, o homem-peixe cativava o ser, seus olhos esbugalhados pareciam aumentar mais ainda e brilhavam como duas perolas.

— Lutar você de fato não lutou, mas você é o nosso campeão, aquele destinado a lutar por todos nós, assim, libertando a gente...

Mais perguntas surgiam por parte de Zayn, o esquisito se coçava e ia pensando nas respostas.

— Eu me chamo Julie se for do seu interesse também saber meu nome e quanto a isso, digamos que você não será exatamente um escravo, você será a peça principal do espetáculo, o nosso representante na luta contra ‘O Ceifador’ – Ele dizia o fim da fala diminuindo o tom da voz, criando um ambiente mais medonho, ou ao menos tentando.

— Só nós dois infelizmente não estamos – Diversos olhos de cores também diversas surgiam na escuridão, alguns se aproximavam, ainda assim só sendo possível ver mãos e pés saindo das sombras.

Era quando ele pedia por comida, que poucos segundos se passavam naquele silencio, que alguém parecia se aproximar, chutando alguns dos escravos por ali durante seu caminho, a maioria que surgia na luz e logo desaparecia.

— Saiam da minha frente seus vermes... – Dizia uma moça de cabelos loiros e olhos azuis, com dois paredes de chifres surgindo de sua cabeça, uma roupa suja, mas que parecia de uma combatente, ao mesmo tempo que por cima disso, um avental justo de cozinheira cobria seu peitoral.

— Você quer comida? Eu tenho comida! Eu tenho a melhor comida do mundo!! – Consigo trazia duas caixas com comidas que por mais incrível que parecesse, tinham um cheiro magnifico.

— Mas eu não dou comida para estranhos, quem é você? Seu peixe roxo estranho e – Ela se perdia quando notava que Zayn estava pelado – Deixa quieto... – Babava – Você quer o prato um ou o prato dois?

Históricos: